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Parto normal x Cesárea (parte 1)

  • Deia
  • 20 de mar. de 2016
  • 7 min de leitura

Oláá!!

Vamos retomar nossos estudos sobre o parto? :D

Aqui vai uma tríade de textos da obstetra e pesquisadora Melania Amorim, que foram retirados do site Guia do Bebê, sobre essa questão tão polêmica que é o parto normal e a cesárea!!

"Ao longo das últimas décadas, as taxas de cesárea têm se elevado em todo o mundo, chegando a atingir taxas superiores a 50% em alguns países da América Latina (1). Esta elevação tem sido vista com preocupação por muitos profissionais de saúde e organizações internacionais incluindo a Organização Mundial de Saúde, uma vez que cesarianas desnecessárias podem se associar a riscos maternos e perinatais (1).

A cesariana bem indicada tem efeitos benéficos documentados e representa em nossos dias um procedimento relativamente fácil e seguro, uma vez que estão disponíveis técnicas seguras de antissepsia e anestesia, além do acesso amplo ao uso de antibióticos e transfusões de sangue. Todos esses avanços culminaram em popularização da operação cesariana nos países desenvolvidos a partir da primeira metade do século XX, resultando inicialmente em significativa redução das complicações relacionadas com o parto, bem como em declínio importante da mortalidade materna e neonatal (2).

Verifica-se uma ampla variação regional entre as taxas de cesariana, com as menores taxas nos países pobres, especialmente no continente africano. Embora as taxas ideais de operação cesariana não sejam bem definidas, estima-se que o risco de morte materna é muito elevado em países onde a incidência de cesariana é menor que 5%, refletindo a falta de profissionais qualificados para assistência ao parto e a falta de acesso da população aos serviços de saúde (3).

O grande problema na atualidade é que diversos estudos apontam que taxas de cesariana superiores a 15%-20% não resultam em redução das complicações e da mortalidade materna e neonatal e, ao contrário, podem estar associadas a resultados prejudiciais tanto para a mãe como para o concepto (1, 4, 5).

Nos Estados Unidos da América, a cesariana aumentou de 20,7% em 1996, para 31,8% em 2007 (6). Entretanto, nos países europeus, especialmente no Norte da Europa, que apresentam taxas mais baixas de cesariana, em torno de 20%, melhores resultados maternos e neonatais têm sido obtidos (5). Taxas muito elevadas de cesariana podem representar a causa do excesso de mortalidade materna em alguns países desenvolvidos, uma vez que, excedendo substancialmente 15%, os riscos para a saúde reprodutiva passam a superar os benefícios (5).

Em alguns países da América do Sul a frequência de cesarianas já chegou a 80% no setor privado (1), apresentando associação direta com a renda per capita do país (7). Além das condições financeiras, os determinantes das cesarianas são bastante complexos e podem incluir mitos e convicções dos médicos, bem como características sociais e culturais das pacientes (8).

No Brasil, as taxas de cesárea mantêm-se em ascensão desde a década de 70 e atualmente correspondem a 46%, porém variam bastante entre as regiões, principalmente quando se compara a assistência realizada pelo Sistema Único de Saúde com a assistência privada. A taxa de cesarianas no setor de saúde suplementar chega próximo de 80%, enquanto no Sistema Único de Saúde fica em torno de 30% (9).

Os problemas decorrentes do excesso de cesarianas foram demonstrados em diversos estudos recentemente publicados. Ultrapassando-se o limite de 15% a 20%, cesarianas estão associadas com maiores taxas de mortalidade materna, aproximadamente quatro a cinco vezes maiores que o parto vaginal (1, 4, 5, 10) e também resultam em maiores riscos de complicações e morte neonatal (1, 4, 5). Esses riscos permanecem elevados quando se controlam fatores potencialmente confundidores, como a indicação e o grau de urgência da cesariana (11-13). O que se verifica é que mesmo em gestantes saudáveis, de baixo-risco, a cesariana eletiva (realizada antes do trabalho de parto) sem indicação médica definida está associada com aumento do risco materno e neonatal (13).

Mulheres submetidas a cesarianas apresentam aumento do risco de nova cesariana, de placenta prévia e placenta acreta nas gestações seguintes, além do risco de histerectomia por cesarianas repetidas (14). Para os bebês, especialmente nas cesáreas eletivas, ocorre aumento do risco de complicações, especialmente admissão em unidade de terapia intensiva neonatal e desconforto respiratório (11-13), que podem ser reduzidas se a cesariana eletiva for realizada acima da 39ª semana de gravidez (13).

Nos próximos artigos publicados nesta coluna, discutiremos por que as taxas de cesárea são tão elevadas no Brasil. São as mulheres que pedem a cesárea ou há um abuso de indicações não-baseadas em evidências pelos obstetras? Quais os pretextos frequentemente utilizados para operação cesariana? Quais as reais indicações de cesárea?

REFERÊNCIAS 1.Villar J, Valladares E, Wojdyla D, Zavaleta N, Carroli G, Velazco A, Shah A, Campodónico L, Bataglia V, Faundes A, Langer A, Narváez A, Donner A, Romero M, Reynoso S, de Pádua KS, Giordano D, Kublickas M, Acosta A; WHO 2005 global survey on maternal and perinatal health research group. Caesarean delivery rates and pregnancy outcomes: the 2005 WHO global survey on maternal and perinatal health in Latin America. Lancet 2006; 367:1819-29. 2.Low J. Cesarean section: past and present. J Obstet Gynaecol Can 2009; 31: 1131-6. 3.Shah A, Fawole B, M'imunya JM, Amokrane F, Nafiou I, Wolomby JJ, Mugerwa K, Neves I, Nguti R, Kublickas M, Mathai M.Cesarean delivery outcomes from the WHO global survey on maternal and perinatal health in Africa. Int J Gynaecol Obstet 2009; 107 :191-7 4.Lumbiganon P, Laopaiboon M, Gülmezoglu AM, Souza JP, Taneepanichskul S, Ruyan P, Attygalle DE, Shrestha N, Mori R, Nguyen DH, Hoang TB, Rathavy T, Chuyun K, Cheang K, Festin M, Udomprasertgul V, Germar MJ, Yanqiu G, Roy M, Carroli G, Ba-Thike K, Filatova E, Villar J; World Health Organization Global Survey on Maternal and Perinatal Health Research Group. Method of delivery and pregnancy outcomes in Asia: the WHO global survey on maternal and perinatal health 2007-08. Lancet 2010; 375: 490-9. 5.Betrán AP, Merialdi M, Lauer JA, Bing-Shun W, Thomas J, Van Look P, Wagner M. Rates of caesarean section: analysis of global, regional and national estimates. Paediatr Perinat Epidemiol 2007; 21: 98-113. 6.Hamilton BE, Martin JÁ, Ventura SJ. Births: Preliminary Data for 2007. National Vital Statistics Reports 2009; 57: 12. 7.Belizan JM, Althabe F, Barros S, Alexander S. Rates and implications of caesarean section in Latin America: ecological study. BMJ. 1999; 319:1397-400. 8.Yazlle MEHD, Rocha JSY, Mendes MC, Patta MC, Marcolin AC, Azevedo GD. Incidência de cesáreas segundo fonte de financiamento da assistência ao parto. Rev Saúde Públic. 2001; 35:202-6. 9.Departamento de Informática do SUS. Sistema de Informações de Nascidos Vivos. Disponível em URL: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?idb2008/f08.def (Acesso em 30.03.2010). 10.MacDorman MF, Menacker F, Declercq E. Cesarean birth in the United States: epidemiology, trends, and outcomes. Clin Perinatol. 2008; 35:293-307. 11.Villar J, Carroli G, Zavaleta N, Donner A, Wojdyla N, Faúndes A, et al. Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean delivery: multicentre prospective study. BMJ. 2007; 335:1025-35. 12.Yee W, Amin H, Wood S. Elective cesarean delivery, neonatal intensive care unit admission, and neonatal respiratory distress. Obstet Gynecol. 2008; 111:823-8. 13.MacDorman MF, Declercq E, Menacker F, Malloy MH. Infant and Neonatal Mortality for Primary Cesarean and Vaginal Births to Women with “No Indicated Risk,” United States, 1998–2001 Birth Cohorts. Birth. 2006; 33:175-82. 14.National Collaborating Centre for Women's and Children's Health. Caesarean section. London (UK): National Institute for Clinical Excellence (NICE); 2004. p.142."

Dra. Melania Maria Ramos de Amorim

MD, PhD

Melania Amorim possui graduação em Medicina pela Universidade Federal da Paraíba (1989), residência médica em Ginecologia e Obstetrícia pelo IMIP (1992), mestrado em Saúde Materno Infantil pelo Instituto Materno Infantil de Pernambuco (1995) e doutorado em Tocoginecologia pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Pós-doutorado concluído em 2009, também pela Universidade Estadual de Campinas. Pós-doutorado na Organização Mundial de Saúde (OMS) em Genebra (2010). Tem Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) por concurso (1992). Atualmente é professora adjunta doutora da Universidade Federal de Campina Grande (PB) e professora da pós-graduação (mestrado e doutorado) do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP - Recife/PE). Ensina Ginecologia e Obstetrícia na graduação, é coordenadora do Internato Médico de Ginecologia e ministra as disciplinas "Elaboração de Projetos de Pesquisa", "Informática Aplicada à Saúde", "Epi-Info: Curso Avançado" e "Saúde Baseada em Evidências" na pós-graduação. Atua como consultora técnico-científica em Saúde Materno-Infantil no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA) em Campina Grande - PB, onde coordena a Unidade de Gravidez de Alto-Risco. Também é Coordenadora do Comitê Municipal de Morte Materna de Campina Grande. Coordenadora do Núcleo de Parteria Urbana (NuPar) da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa) no Brasil. Tem 36 orientações de mestrado e oito orientações de doutorado concluídas. Orienta atualmente quatro dissertações de mestrado e 10 de doutorado. Orientou 32 alunos de Iniciação Científica e tem mais quatro orientações em curso. Participou de diversas bancas de mestrado e concursos para professor universitário. Faz parte dos Comitês Especializados da FEBRASGO (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) de "Medicina Baseada em Evidências" e "Gestação de Alto-Risco". Também é membro da REHUNA (Rede de Humanização do Nascimento) no Brasil e Presidente de Honra do IPESQ (Instituto Paraibano de Pesquisa Prof. Joaquim Amorim Neto). Atua na área de Saúde Materno-Infantil, com ênfase em suas linhas de pesquisa: Medicina Baseada em Evidências, Humanização do Parto e Nascimento, Hipertensão e Gravidez, Gestação de Alto-Risco, Medicina Fetal, Mortalidade Materna e Cirurgia Ginecológica. Atuou como plantonista e preceptora da Residência Médica do IMIP entre 1992 e 2007, nos últimos cinco anos concentrando-se na área de Terapia Intensiva em Obstetrícia. Participa de três grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, coordenando o "Grupo de Estudos em Saúde da Mulher" (UFCG). Tem 161 publicações completas e 10 artigos aceitos para publicação em periódicos nacionais e internacionais, além de diversos trabalhos apresentados em congressos. É autora de seis livros e 24 capítulos de livros. Faz parte do corpo de revisores da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (RBGO) e da FEMINA, além de atuar como parecerista ad hoc de várias revistas internacionais. Desde 2009 é pesquisadora associada do Grupo de Gravidez e Nascimento da Biblioteca Cochrane.

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